Opinião

Viva o SUS

Por Eduardo Caputo
Pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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A primeira vez que morei fora do Brasil foi na Austrália, como já comentei em textos anteriores. Nos 12 meses que passei por lá, não tive a oportunidade de conhecer o sistema de saúde australiano. Não fico magoado com isso, pelo contrário. Sinal que minha saúde se manteve forte ao longo de todo o período. Já por aqui, pela terra do tio Sam, não tive a mesma sorte. Passados 14 meses da minha chegada, acabei por conhecer o sistema de saúde americano, mesmo que tenha sido por um motivo simples.

Um corte no dedão da mão esquerda levantou certa preocupação, e acabei me deslocando a um Pronto Socorro de um hospital local. Chegando lá, fui prontamente encaminhado para a triagem, e em seguida para a sala de espera, o que significava que meu caso não era de urgência. Após esperar por mais ou menos uma hora, fui chamado. Quem me atendeu foi a médica chefe do plantão. Avaliou meu caso, indicou as opções de tratamento, e disse que eu esperasse um pouco, pois ela faria o procedimento ali mesmo. Disse isso, pois aquela sala ainda era um local de triagem. E caso eu retornasse à sala de espera aguardaria, segundo ela mesma, aproximadamente duas horas até que uma sala de procedimento vagasse. Como meu procedimento seria bem simples, ela resolveu fazer ali mesmo, e me liberar. Uma gentileza da parte dela.

Após realizado o procedimento, ela pediu que eu esperasse ali mesmo enquanto ela dava sequência na minha papelada. Minutos depois, adentra à sala uma jovem conduzindo um carrinho, que mais parecia um púlpito. Nele havia um notebook e uma máquina para assinaturas digitais. Nos minutos seguintes passei as informações requeridas por ela, e assinei os termos necessários. Após esse passo, aguardei por meus papéis com as instruções para os dias seguintes, referentes ao meu curativo, e pude ir embora.
Reclamações contra o SUS, sistema de saúde Brasileiro, são constantes e não são novidade. Assim como comparações com sistemas de outros países, como os Estados Unidos, que em geral esbarram na mesma problemática: o pagamento. O SUS não é de graça. Nunca foi. É pago com o dinheiro dos impostos dos cidadãos. Contudo, o sistema não faz cobrança adicionais por procedimentos ou tratamentos custeados pelo mesmo. Por outro lado, mesmo com meus pagamentos mensais, descontados em folha, ao seguro saúde, tenho certeza de que a conta do procedimento que fiz chegará à minha caixa de correspondência. Não sei o valor, mas sei que terei que pagar além do que já pago. Aliás, sempre soube, desde o dia que assinei o contrato com o seguro saúde. É assim que o sistema funciona por aqui.

O SUS não é perfeito, mas nenhum sistema é. Mesmo com todos os seus problemas, e na minha opinião sendo o maior deles o subfinanciamento por parte do estado, o SUS ainda confere cuidados tantos preventivos quando curativos, sem custo adicional aos cidadãos, tendo em vista que se baseia no princípio de que a saúde é um direito de todos e dever do estado. Repito: dever. Sendo assim, é necessário, na minha visão, que haja um esforço coletivo para que se reclame menos de um sistema que funciona, apesar das diversidades, e que se lute mais para que todos tenham acesso a um sistema de qualidade e de bom funcionamento.

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